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ROTA DOS VENTOS

Plato, Porto

05.04.25 - 10.05.25

[EN]

Talvez um texto seja, no fundo, um jogo de ritmos, de passos, do tempo que demora entre uma palavra e outra. Talvez um texto seja um guia. Imagine-se que levo uma bandeira, ou duas. Free tours.

Este é um texto sobre um conjunto de grafismos, não, de grafias, não, de gravuras. Gravuras. Gravar. Tempo. Pelo tempo. Através dele. Tal como a escrita, a impressão. A expansão, o alcance. Longe, vai longe e não é único. Lá longe. Para lá. Para cá. Ir e voltar. Um continente, dois continentes. Exercício de imaginação: ali! aqui! além! acolá! A gravidade. O peso. O movimento. Vamos! Mas a preguiça... Arrasto. Tração. Atrito. Pois é mentira - o tempo e a distância. É mentira e pesa no corpo. Viagens de dez horas são viagens de dez anos. E quanto tempo demora a criação? Quanto tempo demora o encontro? Quanto tempo passamos num lugar e quanto tempo demora a ser nosso? Descobrir. Desenhar. Desenhos na terra. Na areia. Na lama. Sulcos. Tinta (quando penso em sulcos penso sempre em tinta). Impressão. Toque, pele. Papel. Imagem. Mapa. Corpo. Mão. Tinta, de novo. O desenho da palma das mãos. O destino traçado. Já de longe, já de sempre. O caminho a ser percorrido. O caminho cortado. As viagens e os outros. Que nos atravessam, que nos encontram, que nos procuram. O rio e o mar.

O que vai e continua a ir, e o que volta. Para sempre. Fosse esse o seu destino, ir para depois voltar. E nós, traçadas no tempo e desenhando o espelho daquilo que nos rodeia. Das montanhas do nosso corpo, das vozes que, afiadas, perfuram. Fundo, profundamente. Que nos dizem - volta. Ou então - fica que eu vou ter contigo. O mundo é uma tradução daquilo que nos ocupa no íntimo. Dos traços. Do carácter. Do mar como se soubesse da sua dimensão: imensa, infinita. Viagens de dez horas que são... impossivelmente eternas. O tempo que passa

e a lonjura. Nunca mais, não. Nunca. Que piso é este? Lembro-me de olhar a lua e me rever nela. Vinte e oito dias. Tudo no mundo e à sua volta parece mostrar-se em nós. Como se fôssemos parte dele. Como se fôssemos mundo, terra, natureza, paisagem. Como se fôssemos paisagem. Como se fôssemos lua, sol, água. Como se fôssemos noite, bruma, trevas. Como se fôssemos e como o somos. Como o contemos, como o transparecemos. Como emudecemos e como nos derretemos. Como enregelamos, como choramos. E como é nessa manifestação insensata que seremos capazes de olhar e perceber: por ali! A porta abrira por entre as lágrimas. Como uma bússola, o mar sabe sempre onde voltar.

Maria Miguel von Hafe

Julia Baumfeld, Flavia Regaldo, Laura Caetano, Ana Grebler, Ska Batista, Juliana Matsumura

Fotos © Carlos Campos

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